quarta-feira, 28 de outubro de 2009

Era uma vez uma história,...um artista... um lugar ...



Ocorreu-me hoje refletir a respeito da história do Ceará. Os motivos: a) minhas recentes idas ao Passeio Público para participar de um projeto musical que lá ocorre aos sábados e b) a audição da música abaixo, de Ednardo, há muito esquecida em minha memória. A reflexão: são minoria entre nós aqueles que conhecem ou ouviram falar de Passeio Público, Bárbara de Alencar e Ednardo. Não vou convocar o discurso político, da alienação cultural ou dos (pré)conceitos para justificar tal fato, bem como minha falsa inclusão no rol dos privilegiados.
Interessa-me, em vez disso, comentar o quão prazerosa é a experiência de ir a esse belíssimo lugar de Fortaleza e pressentir a ilusória presença dessa figura histórica em cada muro do forte, em cada arvóre ou baobá, assim como no barulho das ondas e no cheiro do mar que ressuscita seus gritos e nos faz respirar um passado de luta, de vergonha e de sangue. E depois... ? Depois... ouvir a canção-poema de Ednardo, esse "ser cearense", que nos convida a eternizar esse eterno pesar...



Passeio Público (Ednardo)


Hoje ao passar pelos lados


Das brancas paredes, paredes do forte


Escuto ganidos, ganidos, ganidos, ganidos


Ganidos de morte


Vindos daquela janela


É Bárbara, tenho certeza


É Bárbara, sei que é ela


Que de dentro da fortaleza


Por seus filhos e irmãos


Joga gemidos, gemidos no ar


Que sonhos tão loucos, tão loucos, tão loucos


Tão loucos foi Bárbara sonhar?


Se deixe ficar por instantes


Na sombra desse baobá


Que virão fantasmas errantes


De sonhos eternos falar


Amigo que desces a rua


Não te assustes, não passes distante


Procura entender, entender


Entender o segredo


Desse peito sangrante

3 comentários:

  1. Muito lindos, tanto a sua reflexão quanto o poema...

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  2. Qdo criança estive no local onde Bárbara de Alencar passou seus últimos dias de vida...lembro q fiquei assustada só em imaginar como uma pessoa poderia viver ali naquele lugar apertado...e sempre ao passar por ali recordo-me desse momento.Qto à praça tb já tive o prazer de sentir sua beleza, ainda q em passos apressados pelo medo de ser assaltada ou levada(rs), não deixei de olhá-la e admirá-la. Sobre Ednardo aprecio suas canções sempre tão convidativas à reflexão, pena q mal ouvimos tocar no rádio...bjus

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  3. Doutor e mestre Ricardo, saudações benedictianas! Belo texto (como sempre!)de sua pena limpa e afiada... Tenho sua mesma im-pressão; já estive muitas das vezes no Passeio. Há idos anos, lá funcionou feira de flores lindíssimas e cheirosas (havia orquídeas!). Alguns andarilhos que lá vão hoje em dia não são "flor-que-se-cheire"! Abraços. www.templarium.blogspot.com

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