terça-feira, 15 de setembro de 2009

"Os cus de Judas" Lobo Antunes


Não li Antônio Lobo Antunes, escritor português, tido por muitos como o maior nome da literatura em língua portuguesa da atualidade, superando, inclusive, seu patrício José Saramago. Foi-me apresentado, para falar a verdade, recentemente, por Tércia Montenegro: escritora cearense renomada, minha colega na Universidade e fã declarada de Lobo Antunes.


Ocorre que, de uns tempos para cá, ouço e vejo amiúde seu nome, seja nas prazerosas conversas livrescas com Tércia, seja nas livrarias e sebos que costumo frequentar. Em decorrência, quem sabe, dessa conjugação de fatores, caiu-me à mão para simples folheamento um de seus livros: "Os cus de Judas". Sendo fã confesso de Saramago, admito que folheei o livro tentando pesar na balança o estilo dos dois escritores. Não sei se procedem as fofocas sobre uma possível rivalidade entre eles, mas o fato é que em poucas folheadas garimpei o trecho abaixo, que põe à mostra o texto refinado do escritor. Outras postagens virão.


“Já reparou que a esta hora da noite e a este nível do álcool o corpo se começa a emancipar de nós, a recusar-se a acender o cigarro, a segurar o copo numa incerteza tacteante, a vaguear dentro da roupa oscilações de gelatina? O encanto dos bares, não é, consiste em, a partir das duas da manhã, não ser a alma a libertar-se do seu invólucro terrestre e a seguir verticalmente para o céu no esvoaçar místico de cortinas brancas das mortes do missal, mas a carne que se livra, um pouco espantada, do espírito, e inicia uma dança pastosa de estátua de cera que se funde até terminar nas lágrimas de remorso da aurora, quando a primeira luz oblíqua nos revela, com implacabilidade radioscópica, o triste esqueleto da solidão sem remédio" (...p. 43).

Um comentário:

  1. Pois é, meu amigo
    Foi uma super surpresa afrontar-me, suavemente, com a beleza da textura deste grande escritor. Vi-o em palavras, em um vídeo indicado no Facebook (do qual não entendi ainda como compartilhar o maravilhoso do "ver"), um homem de tal profundidade que é leve em seus questionamentos mais precisos desta leveza. Não é de falar com agressão sobre aquilo que mais nos parece vivo, por que mais intenso, por que mais profundo... E, não concordo, mesmo que haja, com nenhuma das tramadas indisposições - estas são falas pra vender e não pra gente colecionar, concorda? Deixo um abraço pela apresentação deste grande escritor (ao qual estou correndo em descobrí-lo também) !!!

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