quarta-feira, 10 de junho de 2009

Paul Valéry: o artífice do pensamento


Conheci a obra de Valéry por meio da Semiótica. Confesso: prefiro o Valéry Pensador ao Valéry poeta. Contudo, como não ver poesia no modo como ele arquiteta, desenha, ouve ou (des)escreve o pensamento? Não pretendo esgotar essa figura em uma única postagem. Voltaremos a ele, mas deixo, por ora, um pouco de sua prosa poética a respeito das questões que envolvem a existência e o pensamento humano:


Arremessada para bem longe pelas ondas mais altas, a espuma forma flocos lourejantes e irisados que rebentam ao sol, ou que o vento divertidamente persegue e dispersa, quais bestas espantadas pelo salto brusco do mar. Mas eu, eu me deliciava na espuma nascente e virgem, de estranha doçura ao contato...Leite tépido e vaporoso, que com voluptuosa violência aproxima-se, inunda os pés nus, encharca-os, ultrapassa-os e desliza novamente sobre eles, plangendo com sua voz que deixa a praia e retira-se em si mesma; enquanto, presente e viva, a estátua humana crava-se um pouco mais na areia que a arrasta; e a alma, abandonada a essa música tão poderosa e tão sutil, tranquiliza-se, e a segue eternamente. (Eupalinos ou o arquiteto, 1996, p. 107).

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