sábado, 20 de junho de 2009

Valéry: o vaticinador


Já em 1938, Paul Valéry, o pensador, interrogava-se sobre a decadência do exercício intelectual nas artes e ciências. Ao que parece, esta bancarrota continua hodiernamente. De fato, nada parece mais ingênuo e egoísta que o sentir pelo sentir praticado pelo mundo moderno: aguça-se a percepção, mas, por outro lado, priva-se a mente de qualquer possibilidade de construção, adição ou transformação do objeto a ser apre(e)ndido. Qual o preço a ser pago por isso?

Cada vez mais adiante, cada vez mais intenso, cada vez maior, cada vez mais rápido, e sempre mais novo, essas são as exigências, que correspondem necessariamente a certo endurecimento da sensibilidade. Precisamos, para sentir que estamos vivos, de uma intensidade cada vez maior dos agentes físicos e de diversão perpétua... Todo o papel que era desempenhado, na arte de outrora, pelas considerações de duração foi praticamente abolido.Creio que ninguém faz nada hoje para ser apreciado daqui a duzentos anos. O céu, o inferno e a posteridade perderam muito na opinião pública. Aliás, não temos mais tempo de prever e aprender...(Valéry: Degas, dança desenho, p. 147)

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