quarta-feira, 11 de fevereiro de 2009

O eu, as coisas e a linguagem



Recebi inúmeros emails e alguns comentários a respeito da beleza deste poema. Posto novamente, para os novos visistantes.

"Eita, pernambucano porrreta!!!"


"Dúvidas apócrifas de Moore"


Sempre evitei falar de mim,
falar-me. Quis falar de coisas.
Mas na seleção dessas coisas
não haverá um falar de mim?
Não haverá nesse pudor
de falar-me uma confissão,
uma indireta confissão,
pelo avesso, e sempre impudor?
A coisa de que se falar
até onde está pura ou impura?
Ou sempre se impõe, mesmo impura-
mente, a quem dela quer falar?
Como saber, se há tanta coisa
de que falar ou não falar?
E se o evitá-la, o não falar,
é forma de falar da coisa?

João Cabral de Melo Neto

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