domingo, 18 de julho de 2010

Cidades mortas


Recomendo o livro Cidades mortas, de Monteiro Lobato: uma reunião de contos que retrata, com crueza e certo sarcasmo, a decadência de lugarejos interioranos na época da prosperidade do café. Ótima oportunidade para conhecer outra faceta literária do escritor: a de contista que domina a narrativa com versatilidade, impondo uma escrita rigorosa, mas, ao mesmo tempo, pontuada pela ironia, pela crítica social e pelo estilo regionalista que o consagrou. Aos que somente o conheciam pelo Sítio do Picapau Amarelo e Jeca Tatu, bom proveito.


"A quem em nossa terra percorre tais e tais zonas, vivas outrora, hoje mortas, ou em via disso, tolhidas de insanavel caqueixa, uma verdade, que é um desconsolo, ressurte de tantas ruinas: nosso progresso é nomade e sujeito a paralisias subitas. Radica-se mal. Conjugado a um grupo de fatores sempre os mesmos, reflue com eles duma região para outra. Não emite peão. Progresso de cigano, vive acampado. Emigra, deixando atrás de si um rastilho de taperas.
A uberdade nativa do solo é o fator que o condiciona. Mal a uberdade se esvai, pela reiterada sucção de uma seiva não recomposta, como no velho mundo, pelo adubo, o desenvolvimento da zona esmorece, foge dela o capital – e com ele os homens fortes, aptos para o trabalho. E lentamente cai a tapera nas almas e nas coisas."

"A cidadezinha , onde moro, lembra soldado que fraqueasse na marcha e, não podendo acompanhar o batalhão, à beira do caminho se deixasse ficar, exausto e só, com os olhos saudosos pousados na nuvem de poeira erguida além."

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