sexta-feira, 22 de janeiro de 2010

Tempo de Férias!



Peço desculpas pela escassez de postagens: estou de férias (mas, por incrível que pareça, extremamente atarefado). Deixo, no entanto, dois poemas de Drummond sobre o tempo, a fim de adimplir a agenda do blog:


AMOR E SEU TEMPO


Amor é privilégio de maduros
estendidos na mais estreita cama,
que se torna a mais larga e mais relvosa,
roçando, em cada poro, o céu do corpo.

É isto, amor: o ganho não previsto,
o prêmio subterrâneo e coruscante,
leitura de relâmpago cifrado,
que, decifrado, nada mais existe.

valendo a pena e o preço do terrestre,
salvo o minuto de ouro no relógio
minúsculo, vibrando no crepúsculo.

Amor é o que se aprende no limite,
depois de se arquivar toda a ciência
herdada, ouvida. Amor começa tarde.



Os Ombros Suportam o Mundo


Chega um tempo em que não se diz mais: meu Deus.
Tempo de absoluta depuração.
Tempo em que não se diz mais: meu amor.
Porque o amor resultou inútil.
E os olhos não choram.
E as mãos tecem apenas o rude trabalho.
E o coração está seco.
Em vão mulheres batem à porta, não abrirás.
Ficaste sozinho, a luz apagou-se,
mas na sombra teus olhos resplandecem enormes.
És todo certeza, já não sabes sofrer.
E nada esperas de teus amigos.
Pouco importa venha a velhice, que é a velhice?
Teus ombros suportam o mundo
e ele não pesa mais que a mão de uma criança.
As guerras, as fomes, as discussões dentro dos edifícios
provam apenas que a vida prossegue
e nem todos se libertaram ainda.
Alguns, achando bárbaro o espetáculo
prefeririam (os delicados) morrer.
Chegou um tempo em que não adianta morrer.
Chegou um tempo em que a vida é uma ordem
A vida apenas, sem mistificação.












2 comentários:

  1. Fessô

    Mas que poemas os escolhidos !
    Para os vivos e os sem vida
    Dizer-se o quê: tempo, lida?
    Esmerilhados pulsos da palavra

    Abraços lavrados, pois senão...

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  2. 30.01.010 Dr e mestre Ricardo, é hora de adimplir (adorei!). Drummond é um dos meus favoritos... O homem de Itabira via o mundo passar dentro de seu olhar à janela... e, lá pelas "tantas", concluiu: ô vida besta! Sua benção, Ricardo! dom PCSampaio

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