Hoje, li o curtíssimo poema de Ferreira Gullar, intitulado "Pintura". Encontrei-o no livro "Barulhos", em rápida visita a uma livraria. O que muito me chamou a atenção foi o fato de que esse maranhense-comunista, além de Poeta, é também pintor. Deixo aqui, uma réstia da mistura de suas múltiplas faces.

Pintura
Eu sei que se tocasse
Com a mão aquele canto do quadro
onde um amarelo arde
me queimaria nele
ou teria manchado para sempre de delírio
a ponta dos dedos
Dilema
A pretensão me degrada
a humildade me deprime
e assim a vida é lesada:
ora é virtude ora é crime
Traduzir-se
Uma parte de mim
é todo mundo:
outra parte é ninguém:
fundo sem fundo.
Uma parte de mim
é multidão:
outra parte estranheza
e solidão.
Uma parte de mim
pesa, pondera:
outra parte
delira.
Uma parte de mim
almoça e janta:
outra parte
se espanta.
Uma parte de mim
é permanente:
outra parte
se sabe de repente.
Uma parte de mim
é só vertigem:
Outra parte,
linguagem.
Traduzir uma parte
na outra parte
— que é uma questão
de vida ou morte —
será arte?
Ricardo,
ResponderExcluiré sempre um enorme prazer vir a seu blog.
De certa forma, é um tanto surpreendente pois os contatos são sempre tão rápidos e nos vemos em fragmentos perdidos de nossas histórias. No blog vai se consolidando a sua leitura sensível, a sua escrita antenada na poética que ronda a vida e que você tão bem capta. É enormemente prazeroso vir aqui. Apreeeeendo que só...rs.. E vou feliz!
Abração