sexta-feira, 27 de março de 2009

SAHARA VITAE Soneto de Olavo Bilac

Antônio Cândido, em seu livro "O observador literário", define o soneto como "a vida em resumo". Para o autor, o soneto possui "uma estrutura de obra plástica fechando em si mesma um universo completo". O soneto abaixo muito me impressionou: o tema é banal - a vida como luta do homem contra a adversidade de um mundo insensível -; a seleção lexical nao surpreende, mas... ao se acomodarem à forma reduzida do soneto, as palavras articulam belíssimas metáforas, que nos conduzem a essa visão, esse quadro da vida como arte.


SAHARA VITAE

Lá vão eles, lá vão! O céu se arqueia
Como um teto de bronze infindo e quente,
E o sol fuzila e, fuzilando, ardente
Criva de flechas de aço o mar de areia...

Lá vão, com os olhos onde a sede ateia
Um fogo estranho, procurando em frente
Esse oásis do amor que, claramente,
Além, belo e falaz, se delineia.

Mas o simum de morte sopra: a tromba
Convulsa envolve-os, prostra-os; e aplacada
Sobre si mesma roda e exausta tomba...

E o sol de novo no ígneo céu fuzila...
E sobre a geração exterminada
A areia dorme plácida e tranqüila.

2 comentários:

  1. OI, Ricardo... Finalmente vim ver o seu blog... muito bom mesmo, adorei o poema. Um dia, eu ainda queria ser poeta.. bj!

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