
Para bom entendedor, estas palavras bastam:
Que noite mais comprida desde que nasci.
Viajando parado. O escuro me leva
sem nunca chegar. Sem pedir abença
como vou saber que não vou sozinho?
Que o mundo está vivo? Abença papai,
abença mamãe. Mas falta coragem
e peço pra dentro. Dentro não responde.
(Drummond, Noturno)
Confissão
É certo que me repito,
é certo que me refuto
e que, decidido, hesito
no entra-e-sai de um minuto.
É certo que irresoluto
entre o velho e o novo rito
atiro à cesta o absoluto
como inútil papelito.
É tão certo que me aperto
numa tenaz de mosquito
como é trinta vezes certo
que me oculto no meu grito.
Certo, certo, certo, certo
que mais sinto que reflito
as fábulas do deserto
do raciocínio infinito.
É tudo certo e prescrito
em nebuloso estatuto.
O homem, chamar-lhe mito
não passa de anacoluto.
(Carlos Drummond de Andrade, in 'As Impurezas do Branco')
Nenhum comentário:
Postar um comentário