domingo, 25 de janeiro de 2009

O eu, as coisas e a linguagem

"Dúvidas apócrifas de Marianne Moore"

Sempre evitei falar de mim,
falar-me. Quis falar de coisas.
Mas na seleção dessas coisas
não haverá um falar de mim?
Não haverá nesse pudor
de falar-me uma confissão,
uma indireta confissão,
pelo avesso, e sempre impudor?
A coisa de que se falar
até onde está pura ou impura?
Ou sempre se impõe, mesmo impura-
mente, a quem dela quer falar?
Como saber, se há tanta coisa
de que falar ou não falar?
E se o evitá-la, o não falar,
é forma de falar da coisa?
João Cabral de Melo Neto

4 comentários:

  1. Genial...esse João Cabral.

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  2. Sou um admirador confesso do João Cabral. E esse poema... me calou.

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  3. Não tem jeito mesmo de a gente se esconder...este poema é para não esquecer mais!!!!

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  4. Aline e Américo,
    Concordo. Esse poema é inesquecível e...cala!

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