sexta-feira, 30 de abril de 2010

Cahier B 1910 / Paul Valéry

« Tard, ce soir, brille plus simplement ce reflet de ma nature : horreur instinctive, désintéressement de cette vie humaine particulière. Drames, comédies, romans meme singuliers et surtout ceux qui se disent « intenses »- Amours, joies, angoisses, tous les sentiments m’épouvantent ou m’ennuient […] Je frémis avec dégôut et la plus grande inquiétude se peut mêler en moi à la certitude de sa vanité, de sa sottise, à la connaissance d’être la dupe et le prisonnier de mon reste, enchaîné à ce qui souffre, espère, implore, se flagelle à côté de mon fragment pur.

Pourquoi me dévores-tu, si j’ai prévu ta dent ? Mon idée la plus intime est de ne pouvoir être celui que je suis. Je ne puis pas me reconnaître dans une figure finie. Et moi s’enfuit toujours de ma personne que cependant il dessine ou imprime en la fuyant».


Tarde, esta noite, brilha mais simplesmente este reflexo de minha natureza: horror instintivo, desinteresse desta vida humana particular. Dramas, comédias, romances, mesmo singulares e, sobretudo, aqueles que se dizem “intensos”. Amores, alegrias, angústias, todos os sentimentos me apavoram ou me aborrecem; e o pavor não impede o aborrecimento. Eu tremo com desgosto e a maior das inquietudes pode me envolver, certa de sua vanidade, de sua estupidez, sabendo ser “o tolo e o prisioneiro” do tempo que me resta, acorrentado àquele que sofre, espera, implora, se flagela, ao lado do meu fragmento puro.

Por que me devoras, se previ teu dente? Minha ideia mais íntima é poder não ser nada além daquilo que sou. Eu não posso me reconhecer em uma figura finita. E o EU foge sempre de minha pessoa, que, apesar disso, ele desenha ou imprime na fuga. (Tradução livre: Lívia Mesquita).

quinta-feira, 22 de abril de 2010

Reflexão....



Eu não sou eu, nem o outro

Sou qualquer coisa de intermédio,

Pilar da ponte de tédio,

Que vai de mim para o outro.



Mário de Sá Carneiro

terça-feira, 20 de abril de 2010

Do Talento dos amigos IV

É sempre um grande prazer, para um professor, falar de seus bons alunos. Destaco abaixo pequenos poemas de dois (ex)alunos. Exemplos de "juventude inspirada" :

Difícil compreender tal disparate:

Que alguém aspire à vida, mas bem forte

A inspire em torpes fumos cor de morte -

Fiando, embora, que isto não o mate.



Há vias outras várias pro desgaste:

Qual o sujeito que, de sede tanta,

Destila o mundo e o sorve - até espanta

Que dia e noite e tanto ainda não baste.



Já um não sabe o ar; e o outro, a água;

E postas têm as vísceras em mágoa.

Seguir tais vícios podes, se o quiseres,



Mas eu prefiro noutro extravagar -

Que todos nalgo temos de folgar.

Quanto a mim? Eu me gasto é com as mulheres!



Amante Inveterado (Daniel Pacheco)



Suicídio


-Estou cansado de tudo,


Disse o peixe

E se deitou na rede.

Tito de Andréa

quinta-feira, 1 de abril de 2010

Do talento dos amigos III


Dedico esta postagem ao amigo e comentarista assíduo deste blog: Érico Baymma. Conheço seu talento musical de longas datas (como compositor, arranjador e intérprete, principalmente). Para mim, foi surpresa (acho que para ele também, ao ver meu blog) saber que também gostava de escrever. Seu texto é inquieto e provocador... Algumas vezes confuso e suspenso, mas não menos inteligente. Como também é artista plástico, seu blog contém um acervo de belas imagens, algumas das quais já inspiraram este que vocês visitam.


Convido-os para conhecerem seu blog: http://www.memoriasdaescrita.wordpress.com/. Deixo abaixo trechos de algumas de suas postagens:

“Onde queria estar? Onde é mesmo que eu queria estar? Ausentam-me memórias, restam-me palavras. Serei capaz de sobreviver somente com o recurso das palavras? Quais são os recursos das palavras? A quê… o quê? Ahn? Eu, o quê? Eu…”


“Há horas em que o que existe é pouco; foi-lhe retirado o sumo completo e não adianta chamar o vento, pois já enfraquece na fonte; como um olhar dorido, como um canto restante”.


“Queira ler a mente de um músico, ela se prontifica: ouça a sua canção!”

Érico,
Por não sabermos onde tudo começa ou termina, há sempre um (re) começo.
Muita paz e luz para você.