segunda-feira, 27 de julho de 2009

Sigismund Krzyzanowski: O marcador de páginas


Pouco se sabe sobre esse escritor russo (cujo nome polonês é impronunciável), descoberto depois da Perestroika, quando já era praticamente impossível saber mais detalhes sobre sua biografia. Fotografia, por exemplo, nenhuma. Seu único livro conhecido - O marcador de páginas - é composto de seis novelas escritas durante a década de 1920. São seis narrativas originais, calcadas num realismo fantástico construído de maneira fascinante, que bem poderiam ter saído das páginas de Jorge Luis Borges, se não fosse o detalhe de Krzyzanowski ter vivido na URSS durante os anos 20-40, época em que o sucesso de um escritor estava condicionado à valorização da grandeza do operário e do trabalho humano, como queria o comunismo russo.

Temos por conseguinte textos sui generis que, de certa maneira, dessacralizam o conto russo. Há, por exemplo, um sujeito que ganha um produto que, ao ser colocado nas paredes de seu diminuto quarto, faz este aumentar assustadoramente de tamanho; um cidadão que vai a um sarau e encontra lá a personagem de seu romance, cantando uma mulher; um homem que, ao aproximar-se para beijar sua amada, vê em sua pupila um homenzinho (sua cópia) , encorajando-o a entrar na pupila. Há também o camarada que vivia tentando conseguir morder o próprio cotovelo.

Enfim, um jorro de criatividade, com a "estética mestra" que somente aos russos parece ser concedida. Vale a citação abaixo, retirada de "dentro da pupila", uma das narrativas do livro:

"Nos seres humanos o amor é tímido e de olhos semicerrados: mergulha no crepúsculo, esgueira-se pelos cantos escuros, sussura, esconde-se atrás das cortinas e ... apaga a luz!".

domingo, 19 de julho de 2009

Presenças do Outro


A constituição de nossa própria identidade, a partir do sentido que atribuimos à presença do Outro, é fato prepoderante em uma visão de linguagem como prática social. No entanto, quem seria ou É esse Outro? Um ser real? Uma construção do discurso? Que marcas ou figuras da linguagem convocamos para dar-lhe textura?


Uma dica de leitura para aqueles que se aventuram nos horizontes da Semiótica e vislumbram respostas para essas perguntas: Presenças do outro, de Eric Landowski, da ed. Perspectiva, 2002. Segue um belíssimo trecho do livro:


O outro não é apenas o dessemelhante – o estrangeiro, o marginal, o excluído – cuja presença presumivelmente incomodaria (por definição) mais ou menos. É também o termo que falta, o complementar indispensável e inacessível, aquele, imaginário ou real, cuja evocação cria em nós a sensação de incompletude ou o impulso de um desejo, porque sua não-presença atual nos mantém em suspenso e como que inacabados à espera de nós mesmos (p. 12).

sexta-feira, 10 de julho de 2009

Manoel de barros: de novo, o grande (des)inventor das palavras

Uma Didática da Invenção
do “O Livro das Ignorãnças” ed. Civilização Brasileira.

I
Para apalpar as intimidades do mundo é preciso saber:
a) Que o esplendor da manhã não se abre com
faca
b) 0 modo como as violetas preparam o dia
para morrer
c) Por que é que as borboletas de tarjas
vermelhas têm devoção por túmulos
d) Se o homem que toca de tarde sua existência
num fagote, tem salvação
e) Que um rio que flui entre 2 jacintos carrega
mais ternura que um rio que flui entre 2
lagartos
f) Como pegar na voz de um peixe
g) Qual o lado da noite que umedece primeiro.
Etc.
etc.
etc.
Desaprender 8 horas por dia ensina os princípios.